James Derulo's

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Joy and hospital, joy and misery III

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[a lógica do cárcere]

Emergência do Hospital C., sala amarela, fim da noite de segunda-feira, 22 de dezembro.

- Jaqueline, você vai ali naquele banheiro e tira toda a tua roupa, fica só de calcinha, veste essa camisola e isso nos teus pés (“isso” é uma espécie de bota de tecido surrado preso no pé por fios amarrados ao tornozelo) e coloca todos os teus pertences nesse saco verde.

Logo depois a enfermeira que passou as instruções em tom seco, acredito que mais pela força do hábito do que por desconsideração, prende em meu braço uma pulseira com meu nome, número do registro no hospital, código da minha internação, a hora e, é claro, um código de barras.


Sala verde, início da noite do dia 23 de dezembro [terça-feira], há aproximadamente 20 horas dentro do bunker.

Ao perceber a saída de alguns pacientes retirados da emergência para serem acomodados em leitos recém desocupados nos andares superiores do hospital, e já bastante incomodada com o ímpeto do ar condicionado sob a minha maca, peço pra enfermeira me tirar da “esquina” e me colocar em qualquer lugar mais “quentinho”. Ela e outra me empurram até o fundo esquerdo do bunker, e me estacionam em uma pequena vaga entre uma maca e outra.

Sentindo-me menos miserável com a temperatura amena e mais próxima dos outros acamados, observo-os e vislumbro inícios de conversa. Como numa prisão, o motivo do “encarceramento” é a curiosidade primária. Os diálogos dos pacientes versam esperanças extremas, misto de fé e desespero [Deus é exacerbadamente citado e invocado por aqui], tédio, e a promessa de ir embora. Tão logo quanto possível.

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