James Derulo's

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Joy and hospital, joy and misery II

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Isso é muito clichê: estar internada num hospital e escrever pra passar o tempo. Não sei se escrevo pra posteridade [quanta pretensão], ou pra você. Estou esperando tua ligação. Mas nada. Uma chamada às 20h14 do dia 24 de dezembro de 2008. Incompleta. Uma pancreatite dita curada, um cálculo biliar pra ser “pinçado” do canal do pâncreas, e uma vesícula a ser retirada definitivamente.
24 horas na sala “verde” da emergência. Foi ali o começo dessa internação. Uma espécie de bunker gelado num movimento frenético envolvendo full time uma média de 70 pessoas entre pacientes, enfermeiros e, esporadicamente, médicos. Doentes de toda a ordem, mas todos estáveis de acordo com a classificação desta sala em relação as suas parceiras na escala: a amarela e a vermelha. Ali entrei na primeira hora do dia 23 de dezembro. Uma maca na “esquina” de dois corredores sob uma gelada saída do eficientíssimo ar condicionado central. Um lençol apenas. Frio. Peço um cobertor. Não há um disponível. É preciso que venham da lavanderia, constata a enfermeira que olha pra uma senhora ao meu lado com as inconfundíveis marcas da quimioterapia, e oferece a coberta extra usada nas horas de febre intensa. A senhora a princípio reluta dizendo que precisa dela, mas parece perceber que é só um chiste de egoísmo. Compreensível vindo de alguém que está passando, no mínimo, por uma má fase.
Passados alguns minutos, passa uma maca com uma múmia. O termo não é um exagero. Uma pele marrom-claro, murcha, não aparentando conter vida, envolvendo ossos tão nítidos não me pareceu uma pessoa. Vi só um simulacro. Na saída da sala, uma das duas enfermeiras que conduziam a cama fala alto para a sua chefe que estava em frente ao computador localizado numa espécie de ilha delimitada por balcões e armários com toda a parafernália necessária para a manutenção dos pacientes, o cérebro da ala verde: é um O.B. Acho que não preciso explicar mais.

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