James Derulo's

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A verdade no cinema. Vemos o que amamos.

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 A realidade. Pouquíssimas ideias são mais vazias e inúteis quando aplicadas ao cinema. Cada um sabe, sozinho, o que significa a percepção da realidade. Cada pessoa vê a sua realidade com seus próprios olhos. Ela vê os outros e, acima de tudo, as pessoas que ama, ela vê os objetos que a cercam, vê as cidades e os campos onde mora, mas também vê a morte, a mortalidade do Homem e a transitoriedade dos objetos. Ela vê e experimenta o amor, a solidão, a felicidade, a tristeza, o medo.
Em resumo, cada pessoa vê, sozinha, a vida. E cada pessoa sabe, por si só, o grande abismo que existe entre as experiências pessoais e a representação dessas experiências na tela. Nós aprendemos a aceitar que a grande distância separando o cinema da vida é tão perfeitamente natural que ficamos assombrados quando subitamente descobrimos algo verdadeiro ou real num filme. Não precisa mais do que um gesto de uma criança no fundo de um trem, ou um pássaro que passa voando, ou uma nuvem jogando sua sombra sobre a cena durante um instante.
É uma raridade no cinema de hoje encontrar tais movimentos de verdade onde pessoas ou objetos se mostram como realmente são.

Essas sábias palavras de Wim Wenders estão no documentário Tokyo-Ga (1985) que quer dizer "imagens de Tóquio". Durante as filmagens de Paris Texas, o cineasta alemão visitou a capital japonesa com uma equipe bem reduzida buscando reencontrar a cidade dos filmes de Yasujiro Ozu, o incansável diretor japonês autor de 54 filmes os quais, dos anos 1920 aos anos 1960, mostraram na tela basicamente a família japonesa de maneira simples e que, segundo Wenders, guardam o "tesouro sagrado do cinema" do século XX. Na procura destes movimentos de verdade e partindo de sua peculiar sensibilidade e capacidade narrativa, ele encontra uma Tóquio amortecida e desabafa a impossibilidade de reencontrar o seu cenário ideal em se tratando da sétima arte.
Mas para quem desconhece o trabalho de Ozu, e há quem diga que os filmes são um tédio, assim mesmo, sem meias palavras, a apreciação deste documentário talvez até dispense a lição de casa. A maneira como Wenders se dedica à busca de traços verdadeiros na vida frenética da capital japonesa e coloca o espectador consciente dessa tarefa e participante da discussão de como e quando o cinema toca a realidade, propiciando ao espectador um momento único de genuína empatia, constitui-se uma oportunidade valiosa de voltar à Tóquio dos anos 1980, encontrá-la a partir da acurada visão do diretor alemão e refletir de forma bem subjetiva e nada intelectualóide sobre o que nos toca e atrai quando estamos diante da tela.

++ Site oficial
++ IMDB

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