capa do JB de 1904
O Jornal do Brasil deixará de circular em formato impresso a partir do dia 1º de setembro. Depois desta data, seu conteúdo será fornecido somente na internet. O motivo: uma dívida estimada em R$ 100 milhões e a perda de milhares de assinantes nos últimos anos.
Bom, é lamentável presenciar o "fim" de um jornal com 119 anos de história. Mas parece que este não é o fim. A empresa afirma que os leitores foram consultados sobre a decisão, aprovaram, e com módicos R$ 9,90 mensais terão acesso à edição online.
No dia 14 de julho, o jornal publicou um anúncio de duas páginas no qual o empresário Nelson Tanure, que controla o JB, anunciou o fim da edição impressa através do seguinte texto:
"O 'Jornal do Brasil', coerente com sua tradição de pioneirismo e modernidade, se coloca mais uma vez à frente de seu tempo. A partir de 1º de setembro de 2010 o 'JB' passa a ser o primeiro jornal 100% digital."
Do outro lado, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) não mediu esforços para deixar claro que o setor não está passando por uma crise. Segundo Ricardo Pedreira, diretor-executivo da entidade, a situação do JB representa um caso isolado e ocorreu por "equívocos empresariais".
Estatísticas ANJ:
- A circulação média dos jornais no Brasil cresceu 31% entre 2004 e 2008;
- Em 2009, devido à crise, a circulação caiu 3,46%.
Mas pra ver, só pagando?
Menos números, mais história
Trecho do artigo "JB (1891-2010) - Paradoxos impressos, notas para um obituário" publicado por Alberto Dines no site do Observatório da Imprensa.
acesse o artigo completo aqui
"Àquela altura, um grupo de jovens jornalistas (Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar, Jânio de Freitas, Wilson Figueiredo, Araújo Neto, Luis Lobo, Carlos Lemos e outros), com a colaboração do escultor Amilcar de Castro, operavam a mais profunda, cabal e duradoura reforma editorial da imprensa brasileira. Envolvia o visual, conceito de jornalismo, estilo de texto, pauta. Uma revolução jornalística e cultural – jornalismo e cultura eram então inseparáveis. Revolução branca, literalmente, para acabar com a massa de elementos escuros (fios, títulos, fotos). Implantada gradualmente – só assim poderia se sustentar –, a mudança completou-se em 1959, quando chegou à primeira página.
Com a saída de Odilo, Nascimento Brito distanciou-se (ou foi distanciado) da redação, começou a reclamar, queria voltar atrás, recolocar os tais fios que separavam as matérias e acabou com o suplemento dominical, uma das jóias da nova fase.
Este observador chegou ao JB em 8 de janeiro de 1962, seis anos depois de iniciada a revolução orquestrada por Odilo. Nascimento Brito recebeu-o dizendo: "Amanhã quero um jornal diferente, com fios...". Foi-lhe dito que dentro de alguns anos o leitor talvez percebesse diferenças. No dia seguinte, de novidade apenas um fio fino para separar o logotipo da manchete com plena aprovação de Amilcar de Castro, que permaneceu no jornal por mais algum tempo [JB, edição do centenário, 19/4/1991, "Os fios do tempo"].
Nascimento Brito foi o primeiro publisher a contratar uma consultoria, a Montreal, para fazer um trabalho de reengenharia total. A empresa organizou-se, a redação organizou-se, a busca de qualidade tornou-se prioritária. Graças a isso o jornal ganhou espetacularmente os primeiros rounds no confronto com O Globo. Sem qualquer suporte de TV."
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